Instalação elétrica: aprenda a dimensionar cabos

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A instalação elétrica de qualquer ambiente exige atenção redobrada com segurança, eficiência e durabilidade. Um dos pontos mais críticos é o dimensionamento de cabos, etapa que garante que os fios suportem a carga elétrica prevista, evitando sobrecargas e outros problemas mais graves.

Um dos pontos mais importantes do circuito elétrico de uma obra é o dimensionamento de cabos. Esse cálculo determina se a fiação vai suportar a carga dos equipamentos usados no dia a dia, e um fio mal dimensionado pode causar superaquecimento, quedas de energia e até curtos-circuitos. 

Mais do que seguir um roteiro técnico, é essencial entender por que cada escolha importa, e como elas influenciam diretamente na durabilidade da instalação e na proteção do imóvel. Afinal, um sistema bem-planejado garante eficiência, economia e, acima de tudo, tranquilidade.

Neste artigo, acompanhe o passo a passo como dimensionar cabos elétricos de forma correta. Entenda, de maneira descomplicada, como é todo o processo e como aplicar esse conhecimento, na prática, seja em projetos residenciais, comerciais ou industriais. Continue a leitura e confira!

Como calcular o dimensionamento de cabos?

Essa etapa envolve a análise de três fatores principais: potência da carga, tensão da rede e distância até o ponto de consumo.

Confira o passo a passo para dimensionar os conduítes conforme a NBR 5410.

1. Instalação

Segundo a tabela 33 da norma, dependendo do tipo de instalação, como eletrodutos, eletrocalhas ou se ele está enterrado diretamente no solo, utilizaremos um método de referência diferente para seguir com a instalação.

** inserir tabela 33 (está no texto atual)

Conforme a instalação, a capacidade de condução de corrente do cabo muda; por isso, é essencial consultar a norma.

O método mais comum de instalações residenciais é o 7, com condutores isolados ou cabos unipolares em eletroduto circular embutido em alvenaria, ao qual corresponde o método de referência B1.

2. Quantidade por circuito

Para continuar com o cálculo, precisamos saber se teremos 2 ou 3 cabos carregados por circuito. Para isso, utilizamos a tabela 46 da NBR 5410:

** inserir tabela 46 (está no texto atual)

Segundo a tabela, circuitos monofásicos, a dois ou três condutores, utilizam dois condutores carregados. Duas fases sem neutro, também 2 condutores carregados. 

Já se o circuito for de duas fases com neutro ou trifásico sem neutro, adota-se 3 condutores carregados.

3. Tipo de instalação e temperatura máxima

Para instalações residenciais, podemos considerar cabos de cobre, revestido de PVC, que são os mais utilizados. Eles devem suportar temperatura máxima de 70 °C e temperatura ambiente de 30 °C. 

Para esta instalação, utilizaremos a tabela 36.

** inserir tabela 36 (está no texto atual)

A temperatura é um fator muito importante, pois ela modifica a capacidade de condução de corrente.

4. Análise de fator de correção

Conforme a quantidade de circuitos passando no mesmo eletroduto, mais ele esquenta, o que modifica a temperatura e influencia na condutividade dos circuitos. 

Para fazer esse ajuste, utilizamos a tabela 42 da NBR 5410.

** inserir tabela 42 (está no texto atual)

Não consideramos a queda de tensão por estarmos falando sobre circuitos domésticos, cujas variações por queda de tensão não costumam ultrapassar os limites toleráveis.

5. Qual a corrente passará pelos cabos?

Para calcular a corrente, podemos utilizar a potência do aparelho e a tensão conhecidas.

Exemplo de dimensionamento de conduítes

Corrente de projeto (nominal): 20A

Isolação: PVC

Número de circuitos no eletroduto: 4

Instalação em eletroduto embutido: método B1

Com os dados acima, voltamos à tabela 36 e buscamos o valor mais próximo de 20 amperes, arredondado para cima:

** inserir tabela 36 v2 (a mesma que está no texto atual)

Com esses dados, encontramos 24 amperes e o cabo de 2,5 mm², que, a princípio, seria o ideal a ser utilizado. 

No entanto, atenção! Ainda falta analisar a tabela 42, com o fator de correção.

No exemplo, temos o fator de correção de 0,65, que deve ser multiplicado na capacidade de condução de corrente do cabo. Dessa forma:

24*0,65 = 15,6 ampere.

Isso significa que, nesta instalação, ele não conduz 24 ampere e sim, 15,6 ampere. Como precisamos conduzir 20 ampere, precisamos aumentar a bitola.

Voltando na tabela, vemos que um cabo de 4mm² suporta 32 ampere. Multiplicado pelo fator de correção de 0,65, temos:

32*0,65 = 20,8 ampere.

Dessa forma, concluímos que neste circuito precisamos utilizar cabos de 4mm².

Qual a bitola ideal para cada tipo de carga?

A bitola deve ser suficiente para conduzir a corrente elétrica sem aquecer excessivamente. Veja alguns exemplos comuns:

É importante lembrar que quanto maior for a potência, maior deve ser a seção do fio.

Qual o fio ideal para uma carga de 1500W?

Para uma carga de 1500W em 127V, temos:

I = 1500 / 127 ≈ 11,8 A

Nesse caso, o de 2,5 mm² é o mais indicado, pois suporta até 21 A em circuitos embutidos. Já em 220V, a corrente é menor (6,8 A), e ainda assim o 2,5 mm² é suficiente e recomendado por oferecer margem de segurança.

Qual é a norma que regula o dimensionamento de cabos elétricos?

O dimensionamento deve seguir critérios técnicos bem definidos para garantir a segurança, a eficiência energética e a conformidade com a legislação brasileira. A principal referência para isso é a norma NBR 5410, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Essa norma regulamenta as instalações elétricas de baixa tensão. Ou seja, sistemas com tensões até 1000V em corrente alternada e até 1500V em corrente contínua, como a grande maioria das instalações residenciais, comerciais e prediais.

A NBR 5410 apresenta uma série de regras, tabelas e parâmetros técnicos que devem ser considerados desde o projeto até a execução e manutenção das instalações elétricas. No que diz respeito ao dimensionamento de cabos, a norma orienta sobre:

  • Seção transversal mínima dos condutores, conforme a corrente elétrica que eles devem suportar;
  • Capacidade de condução de corrente conforme o tipo, método de instalação e temperatura ambiente;
  • Fatores de correção que devem ser aplicados em casos específicos, como agrupamento de condutores ou instalação em locais com alta temperatura;
  • Proteção contra sobrecarga e curto-circuito, indicando a necessidade de dispositivos como disjuntores e fusíveis compatíveis com a capacidade;
  • Distância máxima entre o quadro e os pontos de consumo, levando em conta a queda de tensão admissível (geralmente até 4%).

Cumprir a NBR 5410 é obrigatório para que a instalação esteja legalizada, segura e apta a receber aprovação técnica de órgãos reguladores ou concessionárias de energia. Ignorar essas recomendações pode resultar em uma série de transtornos e problemas graves, como, por exemplo:

  • Perda de garantia de equipamentos e eletrodomésticos;
  • Riscos de incêndio e acidentes elétricos;
  • Falhas no fornecimento de energia;
  • Impedimentos em processos de vistoria, financiamento imobiliário ou emissão de habite-se.

Além disso, o uso da NBR 5410 demonstra comprometimento profissional com um projeto bem executado.

Como considerar temperatura, tipo de instalação e fator de correção?

Esses fatores afetam diretamente a capacidade de condução de corrente. Por exemplo:

  • Temperaturas acima de 30 °C reduzem a capacidade dos cabos;
  • Cabos instalados juntos em um mesmo conduíte sofrem aquecimento mútuo;
  • Tipo de instalação (embutida, aparente ou subterrânea) altera a dissipação de calor.

Por isso, as tabelas da NBR 5410 trazem fatores de correção, que devem ser aplicados ao valor de corrente para escolher a bitola ideal. Um erro comum é ignorar esses ajustes, o que pode causar aquecimento excessivo e risco de curto-circuito.

Quantos cabos podem passar por um conduíte?

A norma estabelece que o conduíte nunca deve ser preenchido em mais de 40% da sua capacidade interna. Em geral:

  • Em conduítes de 20 mm, até 3 de 2,5 mm²;
  • Em conduítes de 25 mm, até 5 de 2,5 mm².

Ultrapassar esse limite dificulta a ventilação, aumenta o aquecimento e prejudica a passagem ou substituição futura dos fios.

Qual a seção mínima exigida por circuito?

Seção mínima é a bitola mínima que deve ser utilizada para diferentes circuitos, conforme a tabela 47 da NBR5410:

** inserir tabela 47 (a mesma que está no texto atual)

Conforme a tabela, temos:

  • Para circuitos de iluminação, utilizamos cabos com seção mínima de 1,5;
  • Circuitos de força, como tomadas, necessitam de opções com seção mínima de 2,5;
  • Já para circuitos de sinalização, campainhas ou fechaduras, a seção mínima é de 0,5.

No entanto, a tabela acima apresenta a seção mínima, não necessariamente a que deve ser utilizada em cada caso, especialmente em circuitos de força.

O que muda entre um circuito de iluminação e um de tomadas?

Além da bitola do fio, o tipo de carga muda. Iluminação costuma ter cargas contínuas e de menor potência. Já as tomadas são projetadas para alimentar diversos aparelhos de uso variado, muitas vezes ligados simultaneamente.

Por isso, é comum separar circuitos por função e ambiente: iluminação, tomadas gerais, tomadas de uso específico (TUEs), ar-condicionado, chuveiro, entre outros.

Qual a diferença entre cabo PP, cabo flexível e fio rígido?

Quando falamos em instalações elétricas, é comum surgir a dúvida sobre qual tipo de fio utilizar: PP, flexível ou rígido. Cada um possui características específicas que influenciam diretamente na aplicação e na segurança da instalação.

O PP é um condutor com dupla isolação, bastante resistente, e é indicado principalmente para ligações móveis, como em eletrodomésticos, ferramentas elétricas, equipamentos industriais e extensões. Sua flexibilidade e isolamento reforçado o tornam ideal para ambientes onde há movimentação constante ou risco de abrasão.

Já o flexível é formado por diversos fios finos de cobre torcidos, o que confere grande maleabilidade e facilidade de instalação. Por essa razão, é amplamente utilizado em instalações residenciais e comerciais, especialmente em conduítes embutidos ou com curvas, onde a passagem do fio precisa ser feita com agilidade e segurança.

Por fim, o fio rígido (ou fio sólido) é composto por um único fio de cobre por condutor. Embora seja mais econômico, ele apresenta menor flexibilidade, o que dificulta sua instalação em trechos longos, com curvas ou em conduítes estreitos. É mais indicado para instalações fixas, em linhas retas ou quadros elétricos.

De modo geral, em instalações prediais, o modelo flexível é a escolha mais comum, pois oferece praticidade, bom desempenho e maior segurança na hora da execução da obra.

Como garantir segurança e evitar sobrecarga?

Evitar sobrecargas e garantir a segurança de uma instalação elétrica depende de planejamento, uso de materiais adequados e respeito às normas técnicas. Veja os principais cuidados:

Dimensionamento correto dos cabos

O primeiro passo é calcular a corrente elétrica de cada circuito e escolher modelos com bitola compatível com a carga. Quando subdimensionado, ele esquenta com facilidade, o que pode derreter a isolação, causar curtos-circuitos e até incêndios. 

É essencial aplicar os fatores de correção considerando a temperatura ambiente, a forma de instalação e o número de cabos no mesmo eletroduto.

Divisão adequada dos circuitos

Uma prática segura é setorizar a instalação elétrica, separando os circuitos de iluminação, tomadas, eletrodomésticos pesados (como forno e ar-condicionado) e chuveiros. Isso evita a concentração de carga em um único disjuntor e facilita a manutenção ou o desligamento parcial da rede em caso de problemas.

Uso de disjuntores e dispositivos de proteção

Os disjuntores devem ser compatíveis com a corrente máxima suportada por cada circuito. Quando ocorre uma sobrecarga ou curto, o disjuntor desarma automaticamente, interrompendo o fluxo de corrente. 

Além disso, o uso de DR (Dispositivo Diferencial Residual) é altamente recomendado para proteger contra choques elétricos em instalações residenciais e comerciais.

Evitar o uso de “benjamins” e extensões improvisadas

Multiplugar aparelhos em uma única tomada, especialmente de alta potência, é um dos erros mais comuns que levam à sobrecarga. O ideal é instalar tomadas específicas para equipamentos como microondas, geladeiras, ar-condicionado e aquecedores, com circuitos independentes e cabos adequados.

Inspeções e manutenções periódicas

Instalações antigas, desgastadas ou mal executadas podem apresentar riscos mesmo com a carga dentro do limite. Por isso, é fundamental realizar vistorias regulares, principalmente em locais com grande uso de energia elétrica ou alta rotatividade de equipamentos, como comércios e oficinas.

Materiais certificados e mão de obra qualificada

Utilize produtos com selo do INMETRO e evite marcas desconhecidas ou de procedência duvidosa. Além disso, conte sempre com um eletricista profissional para projetar e executar sua instalação. Um sistema elétrico exige conhecimento técnico e não deve ser feito por improviso.

Como vimos, o dimensionamento de cabos é um dos pilares de uma instalação elétrica segura, econômica e eficiente. Com atenção às normas técnicas, aos cálculos e aos fatores de correção, você evita prejuízos e garante tranquilidade no uso diário da energia elétrica.

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Autor

  • Victor Fruges

    Com uma trajetória profissional abrangente nas áreas financeira, logística e comercial, Victor Fruges consolidou sua expertise na gestão de portfólio de produtos, análise de rentabilidade e mix, lançamento de novos itens, merchandising e varejo. Seu trabalho envolve desde a gestão do ponto de venda até a elaboração de campanhas de incentivo, segmentação de clientes e análise de mercado para apoiar estrategicamente a equipe comercial.Na Schneider Electric, foi responsável pelo desenvolvimento e gestão das linhas de Wiring Devices (interruptores e tomadas) para o mercado brasileiro, conduzindo a concepção e expansão da oferta. Além disso, liderou análises de mercado, canais e concorrência, garantindo crescimento sustentável e maximização de resultados. Sua atuação incluiu também a definição de custos e margens, alinhando produtos às necessidades do mercado, bem como treinamentos e suporte estratégico à equipe de vendas.Victor é formado em Engenharia Elétrica pela FEI, possui pós-graduação em Administração de Empresas para Engenheiros e Arquitetos pela FAAP e um MBA em Gestão e Engenharia de Produtos e Serviços pela Escola Politécnica da USP.Atualmente, como Gerente de Produtos da seção de Elétrica na Obramax, ele aplica seu conhecimento técnico e visão estratégica para impulsionar o crescimento da categoria, aprimorar a experiência do cliente e fortalecer a competitividade da empresa no setor.